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23 de maio — São Gotardo de Hildesheim, Bispo
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Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
A terra de São Gotardo é a Baviera. Tendo pais religiosos e tementes a Deus, deles recebeu uma educação primorosa até à idade que principiou seus estudos no convento beneditino de Alteich. Como estudante, granjeou as maiores simpatias dos seus mestres já pela sua piedade, já pelos progressos que fazia no estudo das ciências.
Tanto se distinguiu, que o Bispo Frederico de Salzburgo, que de vez em quando visitava o convento, facultou-lhe um estudo especial durante três anos na sede episcopal. Passado este tempo, Gotardo voltou para o convento e pediu admissão na Ordem, que lhe foi concedida.
Observador fidelíssimo de todas as constituições da regra, rigoroso e constante na prática das virtudes, em bem pouco tempo Gotardo era tido por todos como modelo de religioso. Quando poucos anos após morreu o abade, por unanimidade, foi eleito seu sucessor.
Sete anos durou sua gestão no mosteiro de Niederalteich, onde todos o estimavam e o tinham como pai, quando para obedecer à vontade do Bispo Willigis de Mogúncia transferiu sua residência para o mosteiro de Hirschfeld, onde a disciplina regular tinha decaído bastante. Árduo era o trabalho da reforma; mas, devido à energia, prudência e santidade do abade, esta se realizou em pouco tempo. Diversos monges deste mesmo Mosteiro morreram na fama de santos. Missão idêntica reclamou a presença de Gotardo nos mosteiros de Tegernsee e Kremsmünster. Por toda parte seus labores foram abençoados e seguidos de resultados esplêndidos.
Grande era seu desejo de poder voltar ao seu mosteiro em Niederalteich para, depois de ter trabalhado pela salvação de outros, poder dedicar seu tempo exclusivamente à sua própria santificação. Não eram estes os planos de Deus. Num sonho, Deus lhe fez conhecer que havia de ser Bispo de uma diocese vastíssima. Quando pouco depois morreu o Bispo de Hildesheim, o clero, como também o imperador, não queria outro sucessor a não ser Gotardo, abade de Niederalteich. Após longa resistência, Gotardo afinal se convenceu de que era a vontade de Deus que aceitasse a dignidade episcopal. Seu lema era a glória de Deus e a salvação das almas. Sendo esta sua orientação, tudo, orações, práticas, jejuns e penitências para isto convergiram. Atenção sua particular mereciam as igrejas. Durante seu episcopado foram construídos numerosos templos, muitos outros sofreram grandes reformas. “Para Deus e o culto divino, o melhor” era sua divisa e por isto insistiu por toda parte que se construíssem igrejas dignas deste nome, que as cerimônias do rito eclesiástico fossem celebradas com toda regularidade. Era inimigo de tudo que dizia desrespeito à casa de Deus.
Nos pobres reconhecia ele templos vivos de Deus e não havia quem, estando na miséria, tivesse em vão recorrido à caridade do Bispo. A todos ele era pai e mãe. Fundação sua foi um hospital e asilo na cidade de Hildesheim.
Sabendo que a felicidade material e espiritual do Estado dependem de uma boa educação da mocidade, Gotardo não mediu sacrifícios, dando aos seus diocesanos boas escolas, às quais pudessem confiar seus filhos.
Já em vida teve Gotardo provas de assistência especial divina. Numerosos são os fatos extraordinários da vida deste santo Bispo e a Igreja não duvidou em ver neles milagres que Deus se dignou fazer por intermédio do seu servo. À sua palavra fugiam os demônios; doenças incuráveis eram curadas por um Sinal da Cruz que Gotardo fazia sobre os doentes. Os biógrafos relatam a ressurreição de um moço, profecias importantes, conversões verdadeiramente grandiosas.
A seu fâmulo Bruno, disse Gotardo um dia: “Meu irmão Bruno, em breve partiremos para nossa pátria”. Bruno, supondo que o Bispo se referisse à Baviera, sua terra, manifestou grande alegria. Gotardo, porém, desiludiu-o dizendo: “Não, é a pátria celeste que nos espera”. De fato: Gotardo adoeceu gravemente. Apesar de doente, redobrou as práticas de penitência. Na festa da Ascensão de Nosso Senhor, quando os clérigos estavam a cantar o divino ofício, Gotardo pediu a quatro acólitos que recitassem em sua presença os Salmos. Terminada a recitação, o santo Bispo entregou sua alma a Deus. O fâmulo Bruno morreu algumas horas depois. O corpo do Bispo foi depositado na catedral. Seu sepulcro foi glorificado por muitos milagres.
O Papa Inocêncio II canonizou Gotardo no ano de 1131.
Reflexões
São Gotardo, avisado por Deus, da hora em que havia de entregar sua alma, preparou-se com muito zelo para a morte. Nós sabemos que não faremos exceção da lei geral da morte, mas ignoramos o tempo e as circunstâncias do nosso trânsito. Muito mais motivos temos, pois, nós, de nos prepararmos devidamente e com bastante antecedência para que a morte não nos colha de improviso… Uma vez só o homem morre, diz o Apóstolo. Assim sendo, desta única morte dependerá toda a eternidade. O pintor pode ainda corrigir os erros que descobrir em suas telas; um general pode com uma nova vitória desfazer a má impressão e as consequências de um revez. Uma morte má, porém, não tem mais conserto. Suas consequências são irrevogáveis, eternas. Vale, pois, a pena e é necessário que nos preparemos enquanto é tempo, porque da morte depende a eternidade; e a morte pode estar mais perto do que julgamos.
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 ↩