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22 de junho — São Paulino de Nola, Bispo e Confessor
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Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
Natural de Bordéus, filho de família senatorial, rica, antiquíssima, Paulino recebeu uma educação esmerada e teve por mestre o célebre Ausônio, que introduziu seu discípulo nos arcanos da poesia e retórica. Quando Ausônio foi chamado a Roma para ocupar o lugar de mestre de estudos do imperador Graciano, Paulino o acompanhou e, apesar de ter apenas 25 anos, sua eloquência celebrou triunfos tais, que lhe foi conferida a dignidade de Cônsul. Contraiu matrimônio com uma espanhola, senhora igualmente dotada de bens espirituais e materiais. Paulino possuía tudo que o coração humano do mundo pode desejar: riqueza, relações vantajosíssimas, amigos poderosos, a graça do imperador, posição elevadíssima e não obstante uma coisa lhe faltava: a paz da alma. Às insistências de Santo Ambrósio de Milão, de Martinho de Tours, de Delfim de Bordéus e aos rogos de sua santa esposa, resolveu receber o santo Batismo.
Com a recepção do santo Batismo, operou-se em Paulino uma transformação completa. Desceu das alturas da sua posição, deu grande parte de sua fortuna aos pobres, doentes e igrejas e se retirou a uma vivenda na Espanha. Lá viveu com sua esposa querida e sua felicidade tornou-se completa, quando esta lhe deu um filho. Deus quis atraí-lo todo a si. Exigiu-lhe o sacrifício do seu primogênito; seus amigos, escandalizados pela vida retraída de todo o mundo, se afastaram e o abandonaram; seus parentes, envergonhados, o repudiaram por ter desmerecido a nobreza da família; os próprios empregados julgaram-se no direito de lhe dizer chalaças. A tudo isto, Paulino tinha só uma resposta: “Se eu agradasse aos homens, não poderia ser servo de Cristo” (Gálatas 1, 10). E sendo caluniado, dizia: “Ó bem-aventurada vergonha de, com Cristo, desagradar ao mundo!” Seus amigos verdadeiros, porém, Santo Ambrósio, Martinho e Jerônimo defendiam-no com denodo, e de muitos homens, dos mais ilustres do império, recebia visitas na sua solidão.
Para fugir totalmente das honras e elogios do mundo e também de seus amigos, resolveu fixar residência em Nola, onde se achava o túmulo de Félix, a quem tinha uma terna devoção. Livre de todos os compromissos com sua família, em Nola se estabeleceu, e, dando o resto de sua grande fortuna para obras pias, lá viveu reservando para si a pobreza. Sua santidade, porém, fez com que pessoas de todas as classes procurassem o “eremita de Nola” e o pedissem para que as aceitasse como discípulos. Quando morreu o bispo de Nola, sacerdotes e povos unanimemente manifestaram o desejo de ter Paulino por sucessor. Este, porém, se opôs quanto pôde à aceitação da dignidade episcopal, mas mais forte que sua relutância era a vontade dos Nolenses.
Como Bispo, Paulino foi um verdadeiro Pai e Pastor e principalmente um grande amigo da pureza e dos pobres. Quando um dia um pobre pedia um pão, pelo empregado lho foi negado por haver só um pão em casa. Pela tarde do mesmo dia veio a notícia que de nove navios que eram esperados, e que traziam mantimentos destinados aos necessitados da diocese, um se tinha afundado. “Vês agora”, disse então o santo Bispo ao empregado, “negaste o pão ao pobre, e Deus fez que o navio se perdesse”. A santo Alípio, que o tinha pedido lhe mandasse seu retrato, respondeu: “É impossível atender teu pedido porque os meus pecados desfizeram e estragaram completamente em mim a imagem de Deus”.
Grande nas virtudes de humildade e liberalidade, Paulino era incansável como pregador, escritor e poeta, e nada poupou para implantar nos corações dos seus diocesanos um grande amor ao Santíssimo Sacramento.
Na grande invasão dos Vândalos, também Nola foi saqueada e muitos dos seus habitantes, como escravos, foram deportados para a África. O santo Bispo, para aliviar a grande miséria, sacrificou tudo que tinha. Um dia apresentou-se-lhe uma pobre viúva debulhada em lágrimas que pediu sua intervenção para a libertação de seu único filho da escravidão. Embora completamente destituído de recursos, Paulino lhe prometeu a libertação do filho; para obtê-la, embarcou para a África e ofereceu-se aos Vândalos para que o aceitassem em troca do jovem filho da viúva. A proposta foi aceita e o moço voltou para a casa da mãe.
Paulino teve de prestar serviços de jardineiro real e Deus abençoou seu trabalho exaustivo. Um dos ministros descobriu que Paulino era um homem ilustradíssimo. Ainda mais disto se convenceu, quando um dia Paulino profetizou a morte próxima do rei, dando ao mesmo tempo, o conselho de, com antecedência, dispor dos negócios do reino.
Quando o rei soube da profecia do jardineiro, mandou chamá-lo em sua presença. Paulino comparece e o rei ao vê-lo, pálido como cera, disse: “Já conheço este homem; é o mesmo que vi em sonho entre os juízes que tomaram o açoite das minhas mãos”. Só com grande relutância Paulino faz declarações relativamente à sua pessoa, e porque se achava na escravidão. O rei, admiradíssimo de virtude tão extraordinária, restituiu-lhe imediatamente a liberdade e prometeu-lhe de atender o pedido que fizesse, fosse qual fosse. Paulino pediu a libertação de todos os seus diocesanos da escravidão. Admirado pelos Vândalos e festejado pelos Nolenses, voltou à sua diocese onde todos receberam seu santo Bispo com uma alegria indescritível.
Paulino morreu em 22 de junho de 431 e anjos levaram sua alma ao céu. Urânio, testemunha ocular da sua morte, escreve: “Nós vimos e, entre lágrimas e gemidos, confessamos ter visto como o justo era arrebatado. A Igreja chorava, o povo soluçava, províncias inteiras lamentavam a perda do santo Bispo. Bem-aventurado o homem que não vivia para si, mas cuja vida era de todos. Ele agora vive em Cristo, não para si, mas para nós, intercedendo cotidianamente por nós. Era um homem admirável, ornado de todas as virtudes, fiel como Abraão, crente como Isaac, bondoso como Jacob, esmoler como Melquisedec, circunspecto como José, encantador como Benjamim; ele despojava os ricos para dar aos pobres; em zelo pela Igreja, em fé e caridade era igual aos Apóstolos e aos santos Bispos”.
Reflexões
“Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros” (João 13, 34). Nisto o mundo conhecerá que sois meus discípulos, quando vos amais mutuamente (João 13, 35).
O mundo não reconhece esta lei de Jesus Cristo, por isto, no mundo não há caridade. Ao lado duma filantropia vaidosa, orgulhosa e bazófia, vemos o ódio desenfreado, a vingança implacável e a especulação desapiedada. Se dá esmola é da sua superabundância, e com o cuidado de nada sofrer e nada lhe faltar. São Paulino deu toda a sua fortuna aos pobres e libertou um moço da escravidão, tornando-se ele mesmo escravo.
Pelas obras de caridade, Deus nos conhecerá como cristãos: “Tudo que fizestes ao mínimo aos meus irmãos, foi a mim que o fizestes e tudo que deixastes de fazer ao menor dos meus irmãos, a mim o deixastes de fazer” (Mateus 25, 40-45). Se quereis, pois, ter um juízo benigno, praticai a caridade a todos, sem distinção material e espiritualmente. Materialmente: socorrendo o vosso próximo nas suas necessidades, como sejam, na pobreza, na doença, nas aflições, em desastres. Espiritualmente: pelos bons conselhos, pelas orações. Praticai as obras corporais e espirituais de misericórdia. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!” (Mateus 5, 7).
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 ↩