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24 de junho — Nascimento de São João Batista
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Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
São poucos os Santos de que a Igreja comemora o nascimento. As festas dos Santos são geralmente o aniversário da sua morte, isto é, da sua despedida do mundo e de seu nascimento para a vida eterna.
São João Batista faz exceção desta regra pelo motivo de ter vindo ao mundo em estado de santidade, isento da lei do pecado original. Seu nascimento foi um acontecimento extraordinário, acompanhado de fatos igualmente extraordinários, como o relatam os Santos Evangelhos. A narração bíblica do nascimento do Precursor de Jesus Cristo, feita sob a inspiração do divino Espírito Santo, é tão clara e circunstanciada que não há mister acrescentar coisa alguma.
Em Hebron, nas montanhas da Judeia, oito milhas além de Jerusalém, vivia um casal — Zacarias e Isabel. Ambos eram justos diante do Senhor. Não tinham filhos, o que muito os afligia e eram já idosos. Zacarias, que era sacerdote, um dia em que estava ocupado nas suas funções, no templo de Jerusalém, entrou no santuário para acender o incenso, enquanto o povo orava no adro. Apareceu-lhe, então, à direita do altar dos perfumes, um Anjo. Zacarias ficou atônito. O Anjo, porém, disse-lhe: “Não temas, Zacarias, porque Deus ouviu tua oração. Tua mulher te dará um filho a quem darás o nome de João. Grande será tua alegria e muitos regozijar-se-ão pelo seu nascimento, porque ele será grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem bebida alguma fermentada, e será cheio do Espírito Santo. Reconduzirá os filhos de Israel em grande número para seu Deus. Ele próprio o precederá em espírito e com o poder de Elias, a fim de preparar ao Senhor um povo perfeito”.
Zacarias disse ao Anjo: “Como saberei com certeza que isto vai se dar? Já estou velho e minha mulher já vai adiantada em anos”. Respondeu-lhe o Anjo: “Eu sou Gabriel e meu lugar é diante de Deus. Ele é que me manda trazer-te esta feliz nova. Porém, como não deste crédito a estas minhas palavras, ficarás mudo até o dia em que tudo isso se cumprir”. Fora, o povo se admirava da longa demora que Zacarias levava no santuário. Afinal saiu, porém, sem poder falar. Por sinais, deu a compreender que tivera uma visão. Acabando os dias do seu serviço, foi-se para sua casa.
Tudo que o Anjo predissera se cumpriu ao pé da letra. Seis meses depois, o mesmo anjo Gabriel foi mandado por Deus à cidade da Galileia, chamada Nazaré, à Maria Santíssima para comunicar-lhe que tinha sido escolhida para ser Mãe do Salvador. Disse-lhe também que sua prima Isabel, apesar de idosa e estéril, tinha concebido um filho, por sinal de que a Deus nada era impossível. Maravilhada pelos acontecimentos tão extraordinários, cheia de gratidão a Deus, pelas coisas tão maravilhosas que operara, Maria pôs-se a caminho e pressurosa foi à casa de sua prima. Esta, ouvindo à voz de Maria, ficou cheia do Espírito Santo e, exclamando, disse: “Bendita sois entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre! Donde me vem a felicidade de ser visitada pela mãe do meu Senhor? Logo que chegou aos meus ouvidos a voz da vossa saudação, o menino saltou de prazer no meu ventre! Bem-aventurada sois por terdes crido! Pois tudo que vos foi dito da parte do Senhor se realizará”.
É opinião unânime dos Santos Padres que os sinais de prazer que João deu antes do seu nascimento, foram causados pelo fato de o Precursor, por uma graça especial de Deus, ter conhecido a presença do seu Senhor e lhe prestado homenagem de adoração. Dizem eles mais, que no mesmo momento teria João sido santificado como o Anjo o prometera.
Chegado o tempo, Isabel deu à luz um filho. Sabendo seus vizinhos e parentes desse grande favor que lhe fizera Deus, correram todos jubilosos para felicitá-la.
No oitavo dia, reuniram-se para a circuncisão da criança e propuseram que se chamasse Zacarias, nome de seu pai. A mãe, porém, se opôs e disse: “Não, ele deve chamar-se João”. Disseram-lhe: “Mas, na tua família não há pessoa desse nome”. Isabel, porém, insistiu que ao menino fosse dado o nome de João. Então fizeram sinal ao pai para que manifestasse a sua opinião. Zacarias pediu uma tabuinha para escrever e escreveu: “João é seu nome”. Ficaram todos admirados. No mesmo instante abriu a boca, desatou-se-lhe a língua e Zacarias falou, bendizendo a Deus. Cheio do Espírito Santo, entoou um dos cantos mais belos que a liturgia conhece, e que faz parte do ofício que os sacerdotes da Igreja dia por dia oferecem a Deus — “Bendito seja o Senhor de Israel, porque visitou seu povo e o resgatou. Suscitou um salvador poderoso na casa de seu servo Davi, como tinha prometido por boca dos seus profetas…” E dirigindo-se ao seu filhinho, disse: “E tu, ó menino, tu serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás ante a face do Senhor preparar os seus caminhos…”
Tendo ciência desses acontecimentos, toda a região vizinha teve medo e por toda a parte, nas montanhas e nos vales da Judeia, contavam-se estas maravilhas, e cada qual dizia: “Que será um dia deste menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele.
Alguns dos Santos Padres são de opinião de que Isabel procurou com seu filhinho o deserto, para salvá-lo da perseguição e crueldade de Herodes. Outros dizem, que João, tendo apenas cinco anos, levado pelo Espírito Santo, foi para o deserto, com o intuito de se santificar ainda mais e se preparar para sua alta missão, que Deus lhe dera. Os santos Evangelhos dizem-nos alguma coisa sobre a vida de São João no deserto. Trajava veste de pele de camelo, cingidos os rins com cintura de couro, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Sua vida era uma vida de oração e de penitência. Diz Santo Agostinho, que em São João o mundo pela primeira vez viu o exemplo mais tarde imitado pelos santos eremitas. “Que saístes a ver no deserto? — perguntou Jesus Cristo às turbas. Uma cana agitada pelo vento? Mas, que saístes a ver? Um homem regaladamente vestido? Eis os que se vestem com regalo, estão nos palácios dos reis. Mas, que saístes a ver? Um profeta? Sim, vos digo, é mais que profeta. Porque este é aquele do qual está escrito: Eis que eu envio meu anjo diante de ti, que preparará teu caminho. E eu vos declaro: Que entre os nascidos de mulher, não há maior profeta que João Batista”. Estas palavras do divino Mestre contêm o maior elogio, que o homem jamais recebeu, e são equivalentes a uma formal canonização, a única que o Filho de Deus em vida pronunciou.
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 ↩
- A data de sua decapitação ocorreu no dia 29 de agosto. ↩