29 de junho — São Pedro, o primeiro Papa

Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1

Quem é que não conhece a vida de São Pedro, daquele pescador da Galileia, escolhido por Nosso Senhor para ser o primeiro dos Apóstolos? São Pedro, forte na fé, dedicado a seu divino Mestre a ponto de querer defendê-lo com a espada! São Pedro que, fraco na tentação, negou seu Mestre, mas pela contrição se levantou e por Jesus foi nomeado chefe de sua Igreja! Não é tanto a vida de São Pedro que hoje se nos apresenta, mas mais o seu pontificado.

Na primeira vocação do Apóstolo, Jesus o olhou e disse: “Tu é Simão, filho de Jonas; serás chamado “Cefas”, que quer dizer Pedro, isto é, pedra” (João I, 42). Esta mudança de nome é significativo. Jesus mesmo deu a explicação deste nome quando, em Cesareia de Filipe, disse: “… Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: tudo que ligares na terra, será ligado nos céus; e tudo que desligares na terra, será desligado nos céus” (Mateus 16, 18-19).

Nestas palavras, Jesus anuncia, entre outras coisas: que Pedro é a rocha inabalável, que serve de fundamento à Igreja, na mesma recebe o supremo poder e a ele são entregues as chaves do céu.

Depois de sua gloriosa Ressurreição, depois da pesca milagrosa, depois do repasto misterioso no lago Genezareth, Jesus dirigiu-se a Pedro, perguntando-o: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?” Ele respondeu-lhe: “Sim, Senhor; sabeis que vos amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta meus cordeiros” (João 21, 17). Com estas palavras, Pedro foi, por seu divino Mestre, instituído pastor do seu rebanho.

Assim São Pedro o compreendeu e pelos Apóstolos foi reconhecido Chefe da Igreja. Logo depois da Ascensão de Jesus Cristo, Pedro propôs a eleição dum substituto de Judas. Na festa de Pentecostes Pedro tomou a palavra e falou com tanta convicção e poder que, no mesmo dia, três mil Judeus pediram o Batismo. Foi Pedro também o primeiro que, com grandes milagres, confirmou a verdade da fé que pregava. Ao pobre paralítico que, sentado na porta do templo, lhe pediu esmola, disse o Apóstolo: “Prata e ouro não possuo, mas o que tenho te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda”. No mesmo momento, o paralítico se levantou e andou. Além deste, Pedro operou ainda muitos milagres. Doentes que tocavam a orla do seu manto ou se colocavam na sua sombra, ficaram curados. As autoridades do templo quiseram proibir a Pedro a pregação da nova doutrina. Este, porém, respondeu: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens”. Assim Pedro pregou o Evangelho com toda franqueza, não temendo cárcere e açoites. Foi ele também o primeiro dos Apóstolos que pregou aos gentios, como prova a conversão de Cornélio.

É difícil resumir em poucas palavras o que o grande Apóstolo fez pela propagação da santa fé. Atravessou toda a Palestina, pregou e fez milagres estupendos onde quer que chegasse. Curou instantaneamente a Eneias da paralisia de que sofria havia oito anos, chamou à vida a Tabita, ordenou sacerdotes e sagrou bispos. Fixou residência em Antioquia, onde permaneceu durante sete anos. Preso por ordem de Herodes em Jerusalém, foi por um anjo libertado da prisão. Depois disto, dirigiu-se à Roma, a sede da idolatria. De lá, mandou missionários para a França, Espanha, Sicília e Alemanha. Nove anos depois, sendo expulso de Roma, voltou para Jerusalém, onde pouco tempo ficou, para procurar outra vez a capital do império. Em Roma vivia um grande feiticeiro chamado Simão, que fazia guerra à Igreja de Cristo. Tendo ele muito prestígio entre os romanos e sendo protegido de Nero, marcou um dia em que, para comprovar a verdade da sua doutrina, na presença de todo o povo, iria se elevar ao céu. Chegou o dia determinado e Simão de fato subiu aos ares. Pedro fez o exorcismo, e ordenou aos maus espíritos que se afastassem e Simão caiu de uma altura considerável, fraturando as pernas.

Este fato abriu os olhos de muitos que, em seguida, vieram pedir o sacramento do Batismo. Mas serviu este fato também para que se desencadeasse uma furiosa tempestade contra a jovem Igreja.

O imperador Nero atiçava todas as paixões contra os cristãos. Pedro conservara-se algum tempo escondido da sanha do tirano e projetara a fuga de Roma. Saindo da cidade — assim conta a lenda — teve uma visão. Viu diante de si seu divino Mestre. “Senhor, para onde ides?”, perguntou-lhe o Apóstolo. “A Roma, para ser crucificado outra vez”, respondeu Jesus, e a visão desapareceu. Pedro compreendeu o sentido das palavras e voltou para trás. Foi preso e levado ao cárcere mamertino, onde se achava também São Paulo.

A prisão durou oito meses. Neste tempo São Pedro converteu os carcereiros Martiniano e Processo que, com mais quarenta e oito neo-cristãos, sofreram o martírio.

Condenado à morte, São Pedro foi, como seu divino Mestre, cruelmente açoitado e em seguida levado à colina do Vaticano para ser crucificado. Estando tudo pronto para a execução, São Pedro pediu aos algozes que o pregassem na cruz com a cabeça para baixo, porque se achava indigno morrer como seu divino Mestre. Assim morreu o primeiro Papa da Igreja Católica. No lugar do suplício foi mais tarde edificada a Basílica de São Pedro. Os restos mortais do Príncipe dos Apóstolos e primeiro Papa se acham na mesma Basílica.

Reflexões 

Demos graças a Deus que nos chamou ao grêmio de sua Santa Igreja. Levante a heresia a cabeça contra ela; pugnem contra ela a maldade e a mentira, nada poderá contra o rochedo de São Pedro. Por mais que se enfureçam, jamais cantarão vitória. A Igreja triunfará e seus inimigos perecerão nas ondas.

Rezemos pelo Papa, o legítimo sucessor de São Pedro e representante de Cristo sobre a terra. Que o Senhor o conserve, o vivifique e dê-lhe felicidade sobre a terra e não o deixe cair nas mãos dos seus inimigos. “Deus Onipotente e Eterno, compadecei-vos do vosso servo; conduzi-o em vossa bondade pelo caminho da salvação, para que com a vossa graça deseje o que vos agrade e trabalhe com as suas forças para cumprir vossa vontade”.

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  1. PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 

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