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23 de novembro — São Clemente, Papa e Mártir († 100)
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Extraído de uma edição de 1935 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
São Clemente, natural de Roma, era discípulo de São Pedro e São Paulo. Acompanhando a este nas viagens evangelizadoras, com ele dividiu as fadigas, sofrimentos e perseguições da vida apostólica. É a ele que o Apóstolo dos Gentios se refere, quando na Epístola aos Filipenses (4, 3) diz: “Peço-vos que auxilieis àqueles também que, como Clemente e outros, comigo trabalharam, cujos nomes estão inscritos no livro da vida”. Estas palavras lhe documentaram a dedicação e fé, o zelo pela causa de Deus e das almas. Se a mansidão e caridade lhe mereceram o nome de Clemente, foi sem dúvida pela atividade apostólica, que São Pedro lhe conferiu a dignidade episcopal.
Os primeiros sucessores de São Pedro, na Sé Apostólica e no martírio, foram Lino e Cleto. Na quase certeza de perder a vida por Jesus Cristo e a Igreja, São Clemente assumiu o governo da Barca de São Pedro em 91. Eram tempos cheios de angústias e apreensões para a jovem Igreja. A autoridade romana ameaçava com uma nova perseguição, e no seio da Igreja mesma reinavam dissensões, que prometiam degenerar em cisma. Era principalmente a Igreja de Corinto o teatro de graves perturbações. Os ânimos estavam irritadíssimos, e tudo indicava a iminência de uma cisão, provocada — assim se acreditava geralmente — pelas paixões, que predominavam numa eleição episcopal. São Clemente dirigiu aos Coríntios uma carta apostólica, em que documenta ao mesmo tempo grande circunspeção, prudência, caridade e firmeza. Tão boa aceitação teve esta carta, que não só em Corinto, mas também em todas as Igrejas era lida durante muitos anos, juntamente com as epístolas dos Apóstolos.
Dividindo a cidade de Roma em sete distritos, determinou para cada distrito um advogado, com a incumbência de ativar conscienciosamente tudo que se relacionava com os cristãos, suas virtudes, os processos judiciários a que haviam de responder, o modo como se haviam perante a autoridade perseguidora, declarações públicas que faziam, o martírio e a morte. Estes protocolos, chamados atos dos mártires, eram lidos nas reuniões dos fiéis. Ao zelo apostólico do Santo Papa abriram-se as portas do próprio palácio imperial. Domitila, irmã do Imperador Domiciano, cuja ferocidade contra os cristãos era conhecida, não só se converteu à Religião de Jesus Cristo, ainda mais: Exemplo de todas as virtudes, fez o voto de castidade perpétua e foi para os cristãos perseguidos o Anjo de caridade, naqueles tempos aflitivos.
O Imperador Trajano, vendo na propagação da religião cristã um perigo social e religioso para o império, e, reconhecendo no Papa rival temível, citou-o perante o tribunal e com ameaças de morte exigiu-lhe a abjuração da fé e o culto dos deuses nacionais. São Clemente não hesitou nem um momento e, na presença da suprema autoridade romana, fez uma profissão de fé belíssima, que não deixou o Imperador em dúvida sobre a improficuidade do seu tentame. Aconteceu o que era de esperar: O Papa foi condenado à morte. Há, porém, duas versões sobre o modo da execução da sentença. Historiadores há que referem ter sido São Clemente atirado ao Tibre. O Breviário Romano, porém, diz que o santo Papa foi, com muitos cristãos, desterrado para a península da Crimeia, onde haviam de trabalhar nas pedreiras e minas. Se para Clemente era um consolo poder partilhar a escravidão com seus filhos em Cristo, estes mais facilmente se conformavam com a triste sorte, vendo junto de si o Pai querido, o representante de Deus na terra.
O que mais atormentava os pobres cristãos, era a falta absoluta de água no lugar, onde trabalhavam. Penosíssimo era o transporte deste precioso líquido, que só se achava na distância de umas milhas. Clemente pediu a Deus que se compadecesse do povo, como se compadecera dos Israelitas no deserto. Terminada a oração, viu no alto duma montanha um cordeirinho que, com a mão direita levantada, parecia indicar um determinado lugar. O santo Papa dirigiu-se imediatamente ao lugar onde lhe aparecera o cordeirinho e com uma enxada pôs-se a cavar a terra. Qual não lhe foi a admiração, quando logo ao primeiro golpe, viu brotar água, água deliciosíssima e tão abundante, que com aquele dia teve termo a aflição dos cristãos. Este milagre não só contentou a estes; também os pagãos, vendo em Clemente um enviado do céu, a ele se dirigiram pedindo que fossem aceitos como catecúmenos. Assim muitos idólatras se tornaram adoradores de Jesus Cristo, e os templos pagãos, antes antros do mais abjeto culto diabólico, transformaram-se em Igrejas cristãs. Este espetáculo grandioso perante Anjos e homens despertou naturalmente o ódio nos corações dos sacerdotes pagãos, que se apressaram em denunciar Clemente.
A resposta imperial não se deixou esperar. O governador Aufidiano, autorizado por Trajano a pôr um dique à propaganda cristã, custasse o que custasse, condenou à morte Clemente e intimou os cristãos a que abandonassem a religião de Cristo. Algemado, foi Clemente levado a um navio, que o transportou ao alto mar. Lá chegado, puseram-lhe uma âncora de ferro ao pescoço e precipitaram-no na água. Isto aconteceu em 23 de novembro de 100. Os cristãos, consternados pela perda do Pai e Pastor, pediram a Deus que não deixasse o corpo do mártir entregue ao jogo das ondas, mas que o restituísse ao carinho e à veneração dos filhos espirituais.
Aufidiano e sua gente mal se tinham afastado, quando o mar espontaneamente retrocedeu a uma grande distância, até o lugar onde tinha sido mergulhado o corpo do santo Papa-Mártir. O mais que aconteceu, foi de todo extraordinário. Aos olhos pasmados dos cristãos apresentou-se um pequeno templo de mármore branco. Pressurosos correram para lá e, chegando ao templo, nele encontraram o corpo de São Clemente, colocado num ataúde, tendo ao lado a âncora pesada. Quando se dispuseram a retirar as santas relíquias, Deus manifestou vontade de que não o fizessem; que o deixassem repousar no mesmo lugar e que o mar anualmente, durante sete dias, franqueasse o acesso ao túmulo. Assim aconteceu. As relíquias de São Clemente ficaram no fundo do mar, guardadas por santos Anjos, até o século IX, quando sob o governo do Papa Nicolau I, os santos missionários Cirilo e Metódio as trouxeram para Roma, onde foram depositadas na igreja de São Clemente, onde se acham até agora.
REFLEXÕES
Se queres venerar dignamente São Clemente, procura imitar-lhe os belos exemplos e observar-lhe os sábios ensinamentos, que depositou nos seus escritos. Os trechos seguintes são tirados de sua epístola aos Coríntios: “Abandonemos os cuidados vãos e passageiros! Sigamos a regra gloriosa e venerável da nossa santa vocação! Atendamos ao que é belo, agradável diante do Senhor, que nos deu a vida! Fixemos o olhar sobre o sangue de Cristo e ponderemos seu alto valor na apreciação de Deus; pois este sangue foi derramado pela salvação nossa e do mundo inteiro. Os astros movem-se no espaço por ordem de Deus e obedecem-lhe. Dia e noite surgem no horizonte e seguem o curso, sem jamais se embaraçarem uns aos outros. O sol, a lua, as estrelas, na mais perfeita harmonia, percorrem seus círculos, sem ultrapassar as órbitas. A terra produz o alimento para o homem, para os animais e os outros seres viventes, tudo em perfeita obediência ao Criador. As profundidades dos abismos e o interior do globo seguem-lhe as determinações. As ondas do mar respeitam os limites que a vontade divina lhes traçou. O vasto oceano, ainda não atravessado por embarcação humana, os continentes além recebem as ordens do Senhor. As estações, a primavera, o verão, o outono e o inverno seguem-se na maior regularidade. Os ventos e as tempestades não se perturbam em suas funções. Fontes inesgotáveis, criadas para nossa saúde e nosso uso, fornecem as águas, para o sustento da vida humana. Os animaizinhos quase imperceptíveis realizam reuniões na maior paz, na mais perfeita ordem. Todas estas coisas o grande arquiteto e Senhor do Universo chamou-as à existência. A todos faz bem, principalmente a nós, que recorremos às suas misericórdias por Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem sejam dados honra e louvor nos séculos dos séculos.
Vossos filhos devem participar da disciplina em Cristo; devem aprender quanto vale perante Deus o sentimento humilde, como é apreciado o amor casto e como é sublime e belo o temor de Deus, que santifica a todos, que andam em reta intenção. Ele é o perscrutador dos pensamentos e planos íntimos. Seu sopro está em nós; Ele o retira, quando lhe apraz”.
Santos do Martirológio Romano, cuja memória é celebrada hoje:
Em Roma, o martírio de Santa Felicidade, mãe de sete filhos, todos os quais morreram mártires. Mortos estes, ela foi decapitada.
Em Mérida, na Espanha, Santa Lucrécia, virgem e mártir. Morreu na perseguição de Daciano. 306.
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-ii ↩