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26 de novembro — São Pedro, Patriarca de Alexandria († 311)
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Extraído de uma edição de 1935 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
EUSÉBIO chama a São Pedro de Alexandria um dos mestres mais distintos da Religião, um dos mais belos ornamentos da Igreja de Deus, uma das mais fulgurantes figuras do episcopado e diz que era admirado por todos, pelo profundo saber e pelo conhecimento vasto das sagradas escrituras.
Pedro assumiu a direção do patriarcado de Alexandria em 300, como sucessor de Teonas, sendo-lhe o governo caracterizado pela grande prudência e energia, de que deu provas durante as perseguições de Diocleciano. Quanto mais iminente era o perigo, tanto mais zelo desenvolvia o santo Patriarca pela manutenção da ordem e disciplina. A perseguição acendrava-lhe ainda mais o amor à sua grei e fazia-o redobrar a vigilância episcopal.
São Pedro era homem de oração. Sem cessar rezava, pedindo a Deus perseverança para si e o seu rebanho, e exortava os fiéis a mortificar os sentidos, a fim de serem dignos de sacrificar a vida por amor de Jesus Cristo, caso as circunstâncias o exigissem. Pela palavra e pelo exemplo consolava e confortava os fiéis perseguidos e com amor de pai acompanhava aqueles que com o sangue selaram a fé. Sob a jurisdição do Patriarca estavam as Igrejas do Egito, da Tebaida e da Líbia.
Apesar do grande zelo e vigilância do Pastor, sempre alguns infelizes, em cuja alma o amor ao mundo predominava, se tornaram traidores da religião, quando esta pedia o supremo sacrifício. Em uma epístola canônica, o Patriarca se referiu às diversas espécies de apostasia, que foram observadas e impôs graves penitências àqueles que se deixaram intimidar pelos horrores do martírio.
Dos apóstatas quem maior escândalo provocou foi Melécio, bispo de Licópolis. Além do crime da apostasia, pesavam sobre ele outras faltas, bastante graves. Pedro achou oportuno convocar um Concílio, que se ocupasse deste caso. O Concílio realizou-se; e Melécio foi deposto. Em vez de se humilhar e pedir perdão, o infeliz bispo formou um partido contra o Patriarca. Para justificar essa atitude e conquistar a opinião pública, deu-se ares de zelador e reformador da disciplina eclesiástica. Levantou calúnias contra o Patriarca e levou o atrevimento ao ponto de acusá-lo de condescendência criminosa para com os cristãos apóstatas, como se os recebesse novamente no grêmio da Igreja, impondo-lhes condições excessivamente leves.
Resultado desta rebeldia foi um cisma eclesiástico, o tal cisma meleciano, que durou 150 anos. Melécio não só semeou a cizânia no campo da Igreja, como também continuou a exercer as funções episcopais; pôs-se acima das leis canônicas e nomeou um bispo de Antioquia. Tudo isto sucedeu impunemente, porque Melécio soube sugestionar a alma do povo de tal maneira, que Pedro, para não ser vítima da fúria popular, teve de retirar-se.
A Melécio associou-se Ário, clérigo alexandrino, cheio de orgulho e espírito insubordinado. Esta união foi de pouca duração, e Ário recebeu de Pedro a sagração do diaconato. Essa conversão, porém, não era sincera, pois logo depois da ordenação, pactuou novamente com os Melecianos e atacou abertamente o Patriarca, acusando-o de injustiça, por ter excomungado cismáticos.
Pedro conhecia bastante o orgulho e o mau gênio de Ário, para se deixar embalar de esperanças de vê-lo voltar ao bom caminho. Excluiu-o, pois, da comunhão dos fiéis.
Pedro escreveu diversas obras, que não chegaram até nós. Os Concílios, que mais tarde se reuniram em Éfeso e Calcedônia, citam alguns passos do livro que escreveu, sobre a divindade e sobre a festa da Páscoa.
Santo Epifânio diz que São Pedro, sob o governo de Galério Maximiano, por algum tempo sofreu pela fé os horrores da prisão. Uma perseguição subsequente, a de Maximino Daja, imperador do Oriente, não teve os rigores das outras, devido a um aviso particular de Galério. Não obstante Pedro foi preso e condenado à morte, sem mais outras formalidades judiciárias. Junto com o sacerdote Fausto e o diácono Amônio, foi decapitado no ano 311.
REFLEXÕES
Lendo a vida de São Pedro, muito nos edificam o amor do Prelado à Igreja, o zelo pela pureza da doutrina e o rigor na aplicação de penitências aos traidores da fé e àqueles que, apavorados pelos horrores do martírio, transigiam com o inimigo. A fé é o tesouro mais precioso que nos veio do céu. Em hipótese alguma nos pode ser lícito negá-la, abandoná-la, traí-la. Quem comete este crime, mostra-se indigno do batismo, indigno de ser filho de Deus e da Igreja. Embora não haja ditosa probabilidade de sermos enumerados entre os mártires, deve em nossa alma existir o desejo de receber a graça de morrer pela fé e a firme resolução de dar a nossa vida por Jesus e sua doutrina, se as circunstâncias o exigirem. Se não nos é dado morrer por Jesus, morrer por sua obra, cultivemos a nossa fé, apreciemo-la e pautemos a nossa vida pelos ditames desta religião, selada pelo sangue de Jesus Cristo, dos Apóstolos e pelo exército dos mártires.
Santos do Martirológio Romano, cuja memória é celebrada hoje:
Morto pelos arianos, que o precipitaram de um rochedo, morreu o sacerdote Marcelo de Nicomédia.
Em Roma, o Papa Sirício, zelador consciencioso da fé e da disciplina canônica. 398.
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-ii ↩