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20 de maio — São Bernardino de Siena, Confessor
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Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
São Bernardino, de que o Martirológio Romano afirma ter sido um astro luminoso para toda a Itália, por causa de sua doutrina e santidade, nasceu em Massa, perto de Siena, em 1380. Cedo perdeu seus pais e sua educação foi confiada a uma sua tia Diana, mulher de grandes e sólidas virtudes.
Sendo menino ainda, manifestou Bernardino uma predileção declarada pela oração, pela vida religiosa e pelo estudo. Grande era seu amor à pureza do coração. Não dando ele mau exemplo aos companheiros, deles também não tolerava que proferissem uma palavra sequer contra o pudor. Bastava sua presença, para contê-los na linha. “Silêncio, aí vem Bernardino!” diziam eles, interrompendo a conversa, se sabiam que lhes importava uma repreensão.
Um homem que se atrevera a dizer palavras obscenas em presença de Bernardino, dele recebeu um tapa no rosto, com a intimação de não continuar a proferir obscenidades. Contra um outro despudorado recrutou um bando de meninos, que a pedradas o perseguiram até fora da cidade.
Diana tinha uma filha piedosíssima, de nome Tobia. Bernardino visitava-a de vez em quando, com o fim de receber salutares instruções. Um dia, disse-lhe Bernardino que se achava enamorado por uma donzela formosíssima, que lhe faltaria a paz e sossego, se não a procurasse diariamente. A piedosa Diana, ao ouvir esta declaração, não pouco se assustou, sem, porém, dar demonstração do seu desassossego. Para descobrir o segredo de Bernardino, observou-o atentamente, e qual não foi sua alegria e seu consolo, quando soube que a querida de Bernardino era Maria Santíssima, a Virgem Imaculada, cuja imagem belíssima se achava nas portas da cidade. Para lá se dirigia Bernardino diariamente e permanecia em oração aos pés da imagem. Mais tarde confessou à prima, que era a Santíssima Virgem Maria, a quem devotava todo o seu amor, e a quem invocava, sem cessar, para merecer sua proteção no combate contra a tentação. Por amor de Maria, o jovem jejuava aos sábados e praticava muitas obras pias e caridosas, em honra de sua divina Mãe. Aconteceu um dia, que sua tia despachasse um pobre, sem lhe dar uma esmola. Bernardino, vendo isto, disse-lhe: “Não despacheis este pobrezinho, sem lhe dar alguma coisa, por amor de Deus. De boa vontade eu dispenso o meu jantar, mas não deixeis o pobre passar fome”.
Bernardino contava 20 anos, quando sua terra foi visitada pela peste. Com a maior dedicação ele tratou dos doentes no hospital, e seu exemplo generoso foi imitado por outros seus companheiros. Quatro meses durou este serviço hospitalar, quando se sentiu acometido por violenta febre. Reconvalesceu, porém, e foi morar numa casa dum subúrbio de Siena. Ainda mais se entregou às práticas de piedade, para conhecer a vontade de Deus relativamente à sua vocação. Após longo exame, decidiu-se para o estado religioso e pediu o hábito de São Francisco. Terminado o noviciado, recebeu a ordem de pregar a palavra de Deus. Com todo o fervor entregou-se a esta obrigação, e em pouco tempo adquiriu uma popularidade tal, que era chamado o Apóstolo da Itália.
De todas as cidades recebia convites para que as visitasse e se fizesse ouvir. As igrejas eram pequenas para comportar o povo, e em muitos lugares, as práticas eram feitas ao ar livre.
Em determinada cidade atacou com tanto vigor o vício da jogatina, que não mais havia quem quisesse pegar no baralho. Apresentou-se queixoso ao Santo um homem, que vivia do fabrico das cartas de jogo; pois, tendo-se fechado as espeluncas, não mais vendia seus artigos antes tão procurados artigos. Bernardino consolando-o, recomendou-lhe que fabricasse santinhos e objetos de devoção, no que foi atendido, e o homem, em vez de continuar queixoso, muito lhe agradeceu o bom conselho, pois muito maior foi em seguida seu lucro, com a venda destes artigos.
Também na própria Ordem, foi grande o bem que Bernardino fez pelas suas prédicas. Em todos os conventos franciscanos restabeleceu o espírito primitivo, concorrendo assim valorosamente pelo incremento espiritual dos mesmos.
Entre as virtudes em que mais se distinguiu Bernardino, cumpre frisar a humildade, a paciência e a pureza.
Três vezes foi-lhe oferecida a dignidade episcopal; uma vez pelo próprio Papa. Bernardino, porém, se negou a aceitá-la, alegando que esperava fazer maior bem no apostolado da pregação.
Mais de uma vez foi acusado de ter espalhado ideias heréticas. O Papa Martinho V, tendo dado crédito àquelas acusações, cassou-lhe a faculdade de pregador. O humilde frade sujeitou-se sem protesto a esta ordem duríssima, a qual pouco depois foi anulada, devido a melhores informações que foram fornecidas ao Papa.
Inimigos lhe surgiram nas pessoas daqueles que mais se sentiram melindrados pelas suas verberações francas e evangélicas. Da parte destes vieram muitas calúnias e perseguições atrozes. Bernardino, porém, não se deixou intimidar. Sua defesa era curta e clara, e o resto o Santo entregava a Deus.
Quando pela primeira vez, em companhia de um irmão leigo, passava pelas ruas de Siena com a sacola, pedindo esmolas, uns meninos mal-educados deles se escarneceram e lhes atiraram pedras. O companheiro, indignado com esta desconsideração, quis reagir e entregou-se a murmurações. Bernardino, porém, disse-lhe: “Deixa os meninos se divertirem. Que mal faz? Não nos ajudam eles a ganhar o céu, dando-nos ocasião de praticar a paciência?”
Em certa ocasião foi convidado por uma fidalga para que a procurasse no seu palacete. Bernardino, supondo, que se tratasse de receber uma esmola, lá foi. Grande, porém, foi sua decepção. Em vez da esmola, como esperava lhe fosse dada, recebeu da mulher propostas indecorosas, com a ameaça dela gritar por socorro e o denunciar, caso não quisesse atendê-la. O Santo empalideceu. Na sua ânsia e indignação, procurou um meio de sair-se desta horrível emboscada. Curta foi sua hesitação. Tirou do bolso um azorrague e curtiu tão desapiedadamente a sua pele, que a tentadora não mais se lembrou da sua ideia infame e pediu humildemente perdão. Assim salvou Bernardino sua inocência.
Foi no ano de 1444, que o Santo se achava no caminho para Nápoles, onde ia pregar uma Missão. Chegando em Áquila, sentiu-se muito doente, tão doente, que pediu os Santos Sacramentos da Extrema-Unção e do Viático. Pressentindo o seu desenlace, pediu que o deitassem no chão sobre cinza, elevou os olhos ao céu e nesta posição entregou sua alma ao Criador.
Seis anos depois da sua morte, em 1450, o Papa Nicolau V o canonizou. O túmulo de São Bernardino, que se acha na igreja dos Franciscanos em Áquila, tem sido glorificado por muitos e grandes milagres.
Reflexões
1. São Bernardino era inimigo de conversas impuras. Não só não profanava sua língua com tais conversações, como também fugia das pessoas que tinham este vício detestável. Quem quer salvar sua alma, deve evitar a impureza também nas suas palavras. De que o coração está cheio, transborda a boca. Um coração impuro não pode agradar a Deus, e é do Apóstolo São Paulo a palavra: “nenhum impuro entrará no reino dos céus”. Lembra-te da presença de Deus e estarás livre do perigo de cometer pecados contra o sexto mandamento.
2. Como a impureza, São Bernardino combatia o jogo. São Cipriano chama o jogo uma invenção diabólica, e chega a afirmar que um jogador não merece o nome de cristão e não pode ser amigo de Nosso Senhor. — Em si o jogo não é coisa condenável; mas há nele muitos perigos, que nos aconselham a maior cautela a seu respeito. Quem se entrega ao jogo, facilmente descuida das obrigações do seu estado, desperdiça o tempo. Além disso dá o jogo ocasião para muitos pecados, como sejam: mentira, fraude, deslealdade, contendas, conflitos, blasfêmias e — suicídio. Feliz aquele que, com Sara, a mulher do piedoso Tobias, pode afirmar: “Nunca me meti entre os jogadores”. (Tobias 3, 17).
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 ↩