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25 de maio — São Gregório VII, Papa e Confessor
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Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
São Gregório é uma das figuras mais imponentes entre os Papas da Igreja Católica, mas, também poucos Pontífices têm sido perseguidos e caluniados como este defensor dos direitos da esposa de Cristo. Um historiador protestante, bastante imparcial e objetivo nas suas apreciações, diz deste Papa: “Gregório VII possuía a intrepidez de herói, a prudência de senador, o zelo de profeta e era, sem dúvida, o diplomata mais genial da idade média”.
O século XI foi para a Igreja um período de grande humilhação. Não fosse ela instituição divina, edificada sobre rocha, seus próprios filhos teriam-na destruído.
O clero superior e inferior, em sua maioria, tinha se esquecido de sua alta missão. Frequentíssimos eram os escândalos, e os príncipes seculares, quais lobos famintos, tinham invadido o aprisco do Senhor. Os reis Filipe e Augusto I da França, Boleslau II da Polônia, Henrique IV, imperador da Alemanha, eram verdadeiros monstros de imoralidade e crueldade. A palma, porém, coube ao imperador, que em crueldade, devassidão e ambição não achava semelhante.
Deus se amerciou de sua Igreja e deu-lhe um Papa, como as circunstâncias o exigiram. De pobre origem, Hildebrando, natural de Toscana, ainda menino deu demonstrações dum talento superior, razão por que seus pais o mandassem à escola dos Beneditinos em Roma. Hildebrando não desmentiu as esperanças nele depositadas. Moço ainda, mas já uma celebridade em ciência e virtude, foi eleito Prior do convento de Cluny.
Deus, porém, o tinha reservado para missão mais alta. Chamado a Roma, Leão IX o escolheu para seu secretário. Aos seus sucessores Vítor II, Estêvão IX, Nicolau II e Alexandre II, prestou Hildebrando os mais relevantes serviços. À sua circunspecção, prudência e coragem imperturbável deve a Igreja a vitória, em questões complicadíssimas. Um arcebispo francês teve ocasião de verificar isto num sínodo celebrado em Reims. Acusado de simonia, justificou-se por meio de testemunhas assalariadas. Hildebrando se levantou imediatamente e com uma franqueza verdadeiramente apostólica, perguntou ao Prelado: “Crês que o Espírito Santo é da mesma essência do Pai e do Filho?” — “Creio”, respondeu o interpelado. “Diga então, continuou Hildebrando, glória ao Padre e ao Filho e ao Espírito Santo.” O Arcebispo pôde apenas proferir: “Glória ao Padre e ao Filho”, não havendo possibilidade de pronunciar o resto. Este castigo visível tocou o seu coração, fazendo-o confessar o seu crime. Grande foi a repercussão que teve este juízo de Deus. Quarenta e cinco bispos e vinte e sete Prelados depuseram espontaneamente a dignidade criminosamente adquirida e fizeram penitência.
O ano de 1073 trouxe-lhe a eleição à suprema dignidade do Cristianismo. Hildebrando, prevendo que seu pontificado seria agitadíssimo, procurou anular a eleição e mandou mensageiros ao imperador com o pedido de não lhe dar a sua confirmação. Grande parte do Episcopado alemão num certo pressentimento do que haviam de esperar da energia de Hildebrando, insistiram com o Imperador, para que não reconhecesse a eleição. Henrique, porém, sancionou-a e, Hildebrando, adotando o nome de Gregório VII aceitou a Tiara pontifícia. Ao receber esta notícia, São Pedro Damião contentíssimo exclamou: “Agora será calcada a cabeça miliforme da serpente peçonhenta e será posto termo ao negócio torpe; o falsário Simão Mago não mais cunhará moedas na Igreja; voltará o tempo áureo dos Apóstolos, revigorará a disciplina eclesiástica, serão derrubadas as mesas dos vendilhões…”
Gregório convocou o Concílio Lateranense e renovou as antigas leis da Igreja que existiam sobre o celibato dos sacerdotes, contra a simonia, e fez incorrer nas censuras eclesiásticas os bispos da França, que tinham rejeitado os decretos pontifícios, como impraticáveis e irrazoáveis. Dos bispos da Alemanha, só dois tiveram a coragem de aceitar e pôr em execução as determinações do Papa. O mais descontente de todos foi o Imperador da Alemanha, que pelas proibições do Papa, se via prejudicado no negócio mais rendoso. Wiberto, arcebispo de Ravenna, ex-chanceler do imperador na Itália, promoveu uma conspiração contra o Papa. Na estação da Missa da meia noite de Natal os conspiradores, chefiados por Cencio, invadiram a Igreja e se apoderaram da pessoa do Papa, para levá-lo à prisão. O povo, porém, libertou seu Pastor e Cencio teria sido apedrejado, se Gregório não lhe tivesse generosamente perdoado.
Um segundo Concílio, celebrado em Roma, no ano de 1075, confirmou as determinações anteriores e fez intimação ao imperador para que, sob pena de excomunhão, respondesse pelos seus crimes, Henrique respondeu com um decreto, elaborado por bispos alemães, que declararam ao Papa destituído de toda a sua dignidade e autoridade. “Falso monge, carregado da maldição de todos os bispos, e condenado pelo nosso tribunal, desce e renuncia à cadeira apostólica indignamente usurpada”.
Gregório, em vez de descer, lançou a excomunhão contra Henrique e os Prelados rebeldes e desligou seus súditos do juramento de fidelidade. Os príncipes da Alemanha, há muito cansados da tirania e arbitrariedade do Imperador, reunidos todos na Dieta de Tribur (1076), declararam-no deposto, se, no prazo de um ano, não fosse absolvido da excomunhão. Henrique empreendeu tudo para se livrar da terrível censura. A vontade da nação tinha decretado seu comparecimento na grande Dieta de Augsburgo, que estava marcada para 2 de fevereiro de 1077 e na qual devia se justificar perante o Papa e os representantes da nação. Proibira-se-lhe igualmente que se ausentasse do território alemão, antes da celebração da Dieta. Henrique não se sentiu com coragem de se sujeitar a esta humilhação e podia ele prever, também, que a Dieta de Augsburgo, expondo às claras todos os seus crimes, declarasse sua solene deposição. Para evitar isto, tratou de obter clandestinamente a absolvição da excomunhão. Sabendo que Gregório se achava no castelo da condessa Matilde, em Canossa, para lá se dirigiu em traje de penitente e, apesar do frio intensíssimo de inverno, ficou descalço e exposto à inclemência da estação, durante três dias, esperando obter audiência do Papa. Este se negou terminantemente a recebê-lo, porque Henrique tinha-se comprometido de não sair da Alemanha e apresentar-se à Dieta de Augsburgo. Não era em Canossa que ele devia dar satisfação à nação e ao Papa. Afinal Gregório cedeu às instâncias da condessa Matilde e recebeu Henrique em audiência. Este então aceitou as condições que lhe foram impostas, e com juramento prometeu executá-las ao pé da letra, isto é, apresentar-se à Dieta de Augsburgo, voltar para a Alemanha e nunca mais fazer aliança com os príncipes e bispos simonistas. Gregório absolveu-o e deu-lhe a sagrada Comunhão. Mal tinha saído de Canossa e ainda se achava na Itália, esquecido das suas promessas, quando se aliou com os príncipes e bispos inimigos do Papa e, uma vez na Alemanha, moveu guerra contra os seus adversários. Os príncipes elegeram um novo Imperador na pessoa de Rodolfo da Suábia e Henrique foi excomungado pela segunda vez.
Este reuniu um concílio de bispos rebeldes em Mogúncia (1080), os quais elegeram Papa o bispo Wiberto de Ravenna, que tomou o nome de Clemente III.
Rodolfo da Suábia pereceu na batalha de Volksheim e Henrique marchou sobre Roma, para tirar vingança do Papa. Só depois de um assédio de dois anos tomou a cidade, onde recebeu a coroa imperial das mãos do antipapa. Gregório retirou-se para Salerno, onde morreu em 25 de maio de 1085. Suas últimas palavras foram: “Amei a justiça e odiei a iniquidade, eis porque morro no exílio”.
Henrique não foi feliz com suas conquistas. Graves distúrbios chamaram-no para a Alemanha, onde achou seus filhos em franca rebelião contra o pai. Perseguido e amaldiçoado pelos filhos, Henrique teve um fim triste, ao passo que Deus glorificou por estupendos milagres o túmulo do seu fiel servo Gregório.
Reflexões
O Pontificado de Gregório VII é um dos mais agitados que a história eclesiástica conhece. Se a Igreja fosse instituição humana, teria achado seu termo numa época em que a indisciplina e corrupção dos costumes tinha invadido todas as camadas da sociedade cristã, inclusive o clero superior e inferior. A Igreja não só saiu vitoriosa destas lutas, como também de outras, como as perseguições abertas e disfarçadas de todos os séculos até os nossos dias. Surgiram e desapareceram impérios, mas a Igreja ficou imutável e firme ficará até o fim dos séculos. Qual é a instituição humana, qual o império, a república, de que se possa afirmar a mesma coisa? Se o mundo inteiro se levantar contra a Igreja Católica, esta poderá sofrer, mas sempre terá em seu favor, como garantia absoluta e certíssima, a palavra profética do seu fundador: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Onde está o Papa, lá está Pedro, e onde está Pedro, lá está a Igreja de Cristo.
O Papa como legítimo sucessor de Pedro, é o representante de Jesus Cristo na terra, o depositário do supremo poder da Igreja.
A Igreja, como reino de Jesus, não é deste mundo. A este reino pertencem todos que acreditam na doutrina de Cristo e fazem uso dos meios de santificação. O poder supremo Cristo o entregou a Pedro, dizendo: “Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas” (João 21, 16-17). Isto é, a ti confio o meu rebanho, para que o leves a boas pastagens, e dele trates com todo o zelo. O Papa é o supremo Pastor, que zela pela união do rebanho e trata do bem-estar espiritual das ovelhas. Desde a Ascensão de Nosso Senhor, não tem faltado à Igreja bons Pastores que, com autoridade suprema e poder apostólico defenderam o rebanho contra os mercenários e os lobos, expulsando os vendilhões que, com seus abusos, profanaram a Igreja de Cristo.
Dai graças a Deus, que vos chamou à sua santa grei. Tende muito respeito à pessoa e à autoridade do Papa e rezai por ele e seus conselheiros, para que governe a Igreja com sabedoria e fortaleza.
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- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 ↩