27 de maio — Santa Maria Madalena de Pazzi, Virgem

Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1

Santa Maria Madalena de Pazzi, filha de pais ilustres, modelo perfeito de virtude e santidade, nasceu em Florença no ano de 1566. No batismo foi chamada Catarina, nome que no dia da sua entrada no convento foi mudado para Maria Madalena. Ela é uma das eleitas do Senhor, que desde a mais tenra infância dera indícios indubitáveis de futura santidade. Menina ainda, achava seu maior prazer nas visitas à Igreja ou na leitura da vida dos Santos. Apenas tinha sete anos de idade e já começava a fazer obras de mortificação. Abstinha-se de frutas, tomava só duas refeições por dia, fugia dos divertimentos, para ter mais tempo para ler os santos livros, principalmente naqueles que tratavam da sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Assim se explica o grande amor a Jesus Cristo, que tantas coisas maravilhosas tem operado na sua vida. Não tendo ainda a idade exigida, não lhe era permitido receber a sagrada Comunhão. Seu desejo, entretanto, de receber a Jesus na sagrada Hóstia era tão grande, que seus olhos se enchiam de lágrimas, quando via outras pessoas se aproximar da santa mesa. Com dez anos fez a sua primeira Comunhão. Foi com indescritível alegria que recebeu, pela primeira vez, o pão dos Anjos. Ela mesma afirmou muitas vezes, que o dia da primeira Comunhão tinha sido o mais belo da sua vida. Logo depois da primeira Comunhão, se consagrou a Deus, pelo voto de castidade perpétua. Quando contava doze anos, nos seus exercícios de mortificação, chegou a usar um hábito grosseiro, a dormir no chão, a pôr uma coroa de espinhos na cabeça e a castigar por muitos modos seu delicado corpo, manifestando assim seu ardente desejo de se tornar cada vez mais semelhante a seu divino Esposo. Quando diversos jovens se dirigiram aos pais de Maria, para obter a mão da mesma, ela pôde lhes declarar: “Já escolhi um Esposo mais nobre, mais rico, a ele serei fiel até a morte.” Depois de vencidas muitas dificuldades, Maria conseguiu sua entrada no convento das Carmelitas em Florença. Após a vestição, prostrou-se aos pés da mestra do noviciado e pediu-lhe que não a poupasse em coisa alguma e lhe ajudasse a adquirir a verdadeira humildade. Tendo recebido o nome de Maria Madalena, tomou a resolução de seguir a grande penitente no seu amor a Jesus Cristo e na prática de suas heroicas virtudes. No dia da Santíssima Trindade fez a sua profissão com tanto amor, que durante duas horas ficou arrebatada em êxtase. Estes arrebatamentos repetiram-se extraordinariamente e Deus se dignou de dar à sua serva instruções salutares e o conhecimento de coisas futuras. O fogo do divino amor às vezes ardia com tanta veemência que, para aliviá-la, era preciso que se lhe lavasse suas mãos e o peito com água fria. Em outras ocasiões ela tomava o crucifixo nas mãos e exclamava em voz alta: “Ó amor! Ó amor! Não deixarei nunca de vos amar!” Na festa da Invenção da Santa Cruz percorreu os corredores do convento, gritando com toda a força: “Ó amor! Quão pouco se vos ama! Quão pouco se vos conhece! Ah! vinde, vinde, ó almas, e amai a vosso Deus!” Seu desejo era ter voz de uma força tal, que fosse ouvida até os confins do mundo. Só uma coisa queria pregar aos homens: “Amai a Deus! Amai a Deus! Maior sofrimento não lhe podia ser causado, senão dando-lhe notícia de Deus ter sido ofendido. Todos os dias oferecia a Deus orações e penitências, pela conversão dos infiéis e pecadores, e pedia a suas Irmãs que o mesmo fizessem. Na sua ânsia de salvar as almas, se ofereceu a Deus para sofrer todas as enfermidades, a morte e ainda os tormentos do inferno, se isto fosse realizável, sem precisar odiar e amaldiçoar a Deus. Em certa ocasião disse: “Se Deus, como a Santo Tomás de Aquino, me perguntasse pelo prêmio que reclamasse como recompensa, eu responderia: “Nada, a não ser a salvação das almas.” Os dias de Carnaval eram para Maria Madalena dias de penitência, de oração e de lágrimas, para aplacar a ira de Deus provocada pelos pecadores.

Para seu corpo era duma dureza implacável; não só o castigava, impondo-lhe o cilício, obrigando-o a vigílias, mas principalmente sujeitando-o a um jejum rigorosíssimo; durante vinte e dois anos seu único alimento era pão e água.

Não menos provada ficou sua alma. Deus houve por bem de mandar-lhe grandes provações. Durante cinco anos sofreu ininterruptamente os mais rudes ataques de pensamentos contra a fé, sem que por isso se tivesse deixado levar pelo desânimo. Muitas vezes se abraçava com a imagem do crucifixo, implorando a assistência da graça divina. Nos últimos três anos de sua vida, sofreu diversas enfermidades. Deus permitiu que nas suas dores ficasse privada ainda de consolações espirituais. Impossibilitada de andar, era forçada a guardar o leito. Via-se então um fato extraordinário: quando era dado o sinal para a Missa ou Comunhão, ela se levantava, ia ao coro e assistia à Missa toda. De volta para sua cela, caía de novo na prostração de imobilidade. Quando lhe aconselharam abster-se da Comunhão, ela declarou ser-lhe impossível, sem o conforto deste Sacramento, suportar as dores. No meio dos seus sofrimentos, o seu único desejo era: “Sofrer, não morrer.” Ao confessor, que lhe falou da probabilidade de um fim próximo dos seus sofrimentos, ela respondeu: “Não, meu Padre, não desejo ter este consolo, desejo poder sofrer até o fim da minha vida”.

Quando os médicos lhe comunicaram a proximidade da morte, Maria Madalena recebeu os Sacramentos da Extrema-Unção e do Viático com uma fé, que comoveu a todos que estiveram presentes. Como se fosse grande pecadora, pediu a todas as suas Irmãs perdão das suas faltas. O dia 25 de maio de 1607 libertou sua alma do cárcere do corpo. Deus o glorificou logo, por um grande milagre. Seu corpo macerado pelas continuas penitências, doenças, jejuns e disciplinas, se rejuvenesceu e exalava um perfume delicioso, que encheu toda a casa. Cinquenta e seis anos depois, em 1663, quando se abriu seu túmulo, foi encontrado o seu corpo sem o menor sinal de decomposição, percebendo-se ainda o celeste perfume. Beatificada em 1626 pelo Papa Urbano VIII, foi inserta no catálogo dos Santos em 1669, pelo Papa Clemente IX.

Reflexões

Maria Madalena sofreu durante cinco anos, as mais terríveis tentações de desespero, contra a fé e a pureza; clamando a Deus por socorro, com sua graça venceu todas estas dificuldades. Satanás costuma molestar com tais tentações a homens que se dedicam ao serviço do Senhor. “Aqueles a quem julga ter já em seu poder, deixa em paz”, diz São Gregório. “Se sois perseguidos por tentações, não desanimeis. Pedi a Deus sua graça e ele não vos deixará cair. Deus é fiel e não permite que sejais tentados mais do que podem as vossas forças” (I Coríntios 10, 13). Ele vos oferece sua graça, para que possais vencer a tentação. Além disto tendes a vossa vontade, que não pode ser forçada por ninguém. “Eis a fraqueza do inimigo” — diz São Bernardo — “que não poderá vencer senão àquele que o consentir. O inimigo pode excitar à tentação, mas de nós depende consenti-la ou rejeitá-la”.

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  1. PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 

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